terça-feira, 9 de junho de 2009

Discurso de Obama traduzido em português, Cairo - 4 Junho 2009

Sinto-me honrado por estar na cidade atemporal do Cairo e de ter como anfitriãs duas instituições notáveis. Por mais de mil anos, Al Azhar tem se erguido como farol do conhecimento islâmico, e há mais de um século a Universidade do Cairo vem sendo uma fonte do avanço do Egito. Juntas, vocês representam a harmonia entre tradição e progresso. Estou grato por sua hospitalidade e pela hospitalidade do povo do Egito. Também tenho o orgulho de carregar comigo a boa vontade do povo americano e uma saudação de paz das comunidades muçulmanas em meu país: assalaamu alaykum.
Encontramo-nos num momento de tensão entre os Estados Unidos e muçulmanos em todo o mundo --tensão que tem suas raízes em forças históricas que extrapolam qualquer debate político atual. O relacionamento entre o islão e o Ocidente inclui séculos de coexistência e cooperação, mas também conflitos e guerras religiosas. Mais recentemente, a tensão foi alimentada pelo colonialismo, que negou direitos e oportunidades a muitos muçulmanos, e pela Guerra Fria, na qual países de maioria muçulmana com demasiada frequência foram tratados como representantes, sem consideração por suas próprias aspirações. Ademais, as mudanças abrangentes trazidas pela modernidade e a globalização levaram muitos muçulmanos a ver o Ocidente como sendo hostil às tradições do islão.
Extremistas violentos vêm explorando essas tensões numa minoria pequena, mas potente dos muçulmanos. Os ataques de 11 de setembro de 2001 e os esforços contínuos desses extremistas para praticar violências contra civis levaram alguns em meu país a enxergar o islão como sendo inevitavelmente hostil, não apenas à América e aos países ocidentais, mas também aos direitos humanos. Isso vem gerando mais medo e desconfiança.
Enquanto nosso relacionamento for definido por nossas diferenças, vamos empoderar aqueles que semeiam o ódio em lugar da paz e que promovem o conflito em lugar da cooperação que pode ajudar todos nossos povos a alcançar a justiça e a prosperidade. Esse ciclo de desconfiança e discórdia precisa acabar.
Vim para cá para buscar um novo começo entre os Estados Unidos e muçulmanos em todo o mundo; um que seja baseado no interesse mútuo e no respeito mútuo; e um que seja baseado na verdade de que Estados Unidos e islão não são mutuamente excludentes e não precisam competir. Em vez disso, eles se sobrepõem e compartilham princípios comuns: princípios de justiça e progresso, de tolerância e da dignidade de todos os seres humanos.
Faço isso com a consciência de que a transformação não pode acontecer da noite para o dia. Nenhum discurso isolado será capaz de erradicar anos de desconfiança, nem eu, no tempo de que disponho, poderei responder a todas as perguntas complexas que nos trouxeram para este ponto. Mas estou convencido de que, para podermos andar para frente, precisamos dizer abertamente as coisas que temos em nossas corações e que com demasiada frequência são ditas apenas a portas fechadas. É preciso que haja um esforço sustentado para ouvirmos uns aos outros; aprendermos uns com os outros; respeitarmos uns aos outros, e buscar terreno comum. Como nos diz o Sagrado Alcorão, "Seja consciente de Deus e fale a verdade sempre". É isso o que procurarei fazer: falar a verdade ao máximo de minha habilidade, sentindo-me humilde diante da tarefa que temos pela frente e firme em minha crença em que os interesses que compartilhamos como seres humanos são muito mais poderosos que as forças que nos afastam.
Parte dessa convicção tem suas raízes em minha própria experiência. Sou cristão, mas meu pai veio de uma família queniana que inclui gerações de muçulmanos. Quando menino, vivi vários anos na Indonésia e ouvi o chamado do azaan ao raiar do dia e ao cair da noite. Quando jovem, trabalhei em comunidades de Chicago onde muitos encontravam dignidade e paz em sua fé muçulmana.
Como estudioso da história, também conheço a dívida que civilização tem com o islão. Foi o islão--em lugares como a Universidade Al Azhar-- que carregou a luz do saber ao longo de muitos séculos, abrindo caminho para o Renascimento e o Iluminismo na Europa. Foram inovações em comunidades muçulmanas que desenvolveram a ordem da álgebra; nossa bússola magnética e instrumentos de navegação; nossa maestria das penas e da impressão; nossa compreensão de como as doenças se espalham e de como podem ser curadas. A cultura islâmica nos deu arcos majestosos e torres que se elevam ao céu; poesia atemporal e música preciosa; caligrafia elegante e lugares de contemplação pacífica. E, ao longo de toda a história, o islão demonstrou em palavras e atos as possibilidades da tolerância religiosa e da igualdade racial.
Sei, também, que o islão sempre foi uma parte da história da América. O primeiro país a reconhecer o meu foi o Marrocos. Ao assinar o Tratado de Trípoli, em 1796, nosso segundo presidente, John Adams, escreveu: "Os Estados Unidos não têm em si nenhum caráter de inimizade com as leis, a religião ou a tranquilidade dos muçulmanos". E, desde nossa fundação, muçulmanos americanos enriqueceram os Estados Unidos. Eles lutaram em nossas guerras, serviram no governo, defenderam os direitos civis, abriram empresas, lecionaram em nossas universidades, se destacaram em nossas arenas desportivas, ganharam Prêmios Nobel, construíram nosso edifício mais alto e acenderam a tocha olímpica. E quando, recentemente, o primeiro muçulmano americano foi eleito para o Congresso, ele fez o juramento de defender nossa Constituição usando o mesmo Santo Alcorão que um dos fundadores de nosso país, Thomas Jefferson, guardava em sua biblioteca pessoal.
Assim, conheci o islão em três continentes antes de vir para a região onde ele primeiro foi revelado. Essa experiência guia minha convicção de que a parceria entre os EUA e o islão deve ser baseada no que o islão é, e não no que ele não é. E considero que é parte de minha responsabilidade como presidente dos Estados Unidos combater os estereótipos negativos do islão, onde quer que apareçam.
Mas esse mesmo princípio deve se aplicar às percepções muçulmanas da América. Do mesmo modo como muçulmanos não se enquadram em um estereótipo grosseiro, a América não é o estereótipo grosseiro de um império que apenas defende seus próprios interesses. Os Estados Unidos tem sido uma das maiores fontes de progresso que o mundo já conheceu. Nascemos de uma revolução contra um império. Fomos fundados com base no ideal de que todos são criados iguais, e derramamos sangue e lágrimas há séculos para dar sentido a essas palavras dentro de nossas fronteiras e em todo o mundo. Fomos moldados por todas as culturas, vindas de todos os cantos da Terra, e somos dedicados a um conceito simples: "E pluribus unum" -- "A partir de muitos, um só".
Muita coisa já foi dita sobre o facto de um afro-americano com o nome Barack Hussein Obama ter podido ser eleito presidente. Mas minha história pessoal não é tão singular. O sonho da oportunidade para todas as pessoas não se realizou para todos na América, mas sua promessa existe para todos os que chegam a nosso país. Isso inclui quase sete milhões de muçulmanos americanos em nosso país, hoje, que gozam de renda e educação acima da média.
Ademais, a liberdade, na América, é inseparável da liberdade de praticar sua própria religião. É por isso que existe uma mesquita em cada Estado de nossa União e que há mais de 1.200 mesquitas dentro de nossas fronteiras. É por isso que o governo americano foi ao tribunal para proteger o direito de mulheres e meninas usarem o hijab e para punir aqueles que gostariam de lhes negar esse direito.
Que não haja dúvida, portanto: o islão é uma parte da América. E acredito que a América encerra nela a verdade de que, independentemente de raça, religião ou status na vida, todos nós compartilhamos aspirações comuns de viver em paz e segurança; de ter acesso à educação e de trabalhar com dignidade; de amar nossas famílias, nossas comunidades e nosso Deus. Essas coisas nós compartilhamos. Essa é a esperança de toda a humanidade.
É claro que reconhecer nossa humanidade comum é apenas o começo de nossa tarefa. As palavras, por si sós, não podem atender às necessidades de nosso povo. Essas necessidades só serão atendidas se agirmos com ousadia nos anos que estão por vir; e se reconhecermos que os desafios que enfrentamos são comuns, e que nossa falha em fazer frente a eles vai prejudicar a nós todos.
Pois aprendemos com a experiência recente que, quando um sistema financeiro se enfraquece em um país, a prosperidade é prejudicada em toda parte. Quando uma nova gripe infecta um ser humano, todos estão em risco. Quando um país procura dotar-se de uma arma nuclear, o risco de ataque nuclear cresce para todos os países. Quando extremistas violentos operam em uma cadeia montanhosa, pessoas do outro lado de um oceano correm perigo. E, quando inocentes são massacrados na Bósnia e em Darfur, isso é uma mancha que macula nossa consciência coletiva. É isso o que significa compartilhar este mundo no século 21. É essa a responsabilidade que carregamos uns em relação aos outros, como seres humanos.
Esta é uma responsabilidade difícil de assumir. Pois a história humana frequentemente tem sido um registro de nações e tribos subjugando uns aos outros para atender a seus próprios interesses. Nesta nova era, porém, atitudes como essas derrotam seus próprios objectivos. Em vista de nossa interdependência, qualquer ordem mundial que eleve um país ou grupo de pessoas acima de outro fracassará inevitavelmente. Portanto, sempre que pensarmos no passado, não devemos ser prisioneiros dele. Nossos problemas precisam ser enfrentados através da parceria; o progresso precisa ser compartilhado.
Isso não significa que devamos ignorar as fontes de tensão. Na verdade, sugere o contrário: precisamos enfrentar essas tensões sem rodeios. E assim, dentro desse espírito, permitam que eu fale com a maior clareza e franqueza possíveis sobre algumas questões específicas que creio que finalmente precisamos enfrentar juntos.
A primeira questão que precisamos enfrentar é o extremismo violento sob todas suas formas.
Em Ancara, deixei claro que a América não está e nunca estará em guerra com o islão. Entretanto, vamos confrontar implacavelmente os extremistas violentos que lançam uma ameaça grave a nossa segurança. Porque rejeitamos a mesma coisa que todas as pessoas de todas as religiões rejeitam: a matança de homens, mulheres e crianças inocentes. E meu primeiro dever como presidente é proteger a população americana.
A situação no Afeganistão demonstra as metas da América e nossa necessidade de trabalharmos em conjunto. Mais de sete anos atrás, os Estados Unidos perseguiram a Al Qaeda e o Taleban com amplo apoio internacional. Não fomos lá por nossa própria escolha, fomos por necessidade. Tenho consciência de que algumas pessoas questionam ou justificam os acontecimentos do 11 de Setembro. Mas sejamos claros: a Al Qaeda matou quase 3.000 pessoas nesse dia. As vítimas foram homens, mulheres e crianças inocentes da América e de muitas outras nações, que não tinham feito nada para fazer mal a ninguém. No entanto, a Al Qaeda optou por assassinar impiedosamente essas pessoas, reivindicou o crédito pelo ataque, e até hoje declara sua determinação de matar em escala maciça. Ela tem filiados em muitos países e está tentando ampliar seu alcance. Essas não são opiniões a serem debatidas--são fatos que é preciso enfrentar.
Que ninguém se iluda: não queremos manter nossas tropas no Afeganistão. Não procuramos ter bases militares ali. É extremamente sofrido para a América perder nossos jovens, homens e mulheres. É custoso e politicamente difícil levar esse conflito adiante. Ficaríamos mais que felizes em trazer cada um de nossos soldados para casa, se pudéssemos confiar que não há extremistas violentos no Afeganistão e Paquistão determinados a matar o maior número possível de americanos. Mas esse ainda não é o caso.
É por isso que formamos uma parceria com uma coalizão de 46 países. E, apesar dos custos envolvidos, o engajamento dos EUA não vai se enfraquecer. De fato, nenhum de nós deveria tolerar esses extremistas. Eles já mataram em muitos países. Mataram pessoas de diferentes religiões--mais que qualquer outra, mataram muçulmanos. Suas ações são irreconciliáveis com os direitos dos seres humanos, com o progresso das nações e com o islão. O Sagrado Alcorão ensina que aquele que mata um inocente, é como se tivesse matado toda a humanidade; e que aquele que salva uma pessoa, é como se tivesse salvo toda a humanidade. A fé duradoura de mais de 1 bilião de pessoas é tão maior que o ódio estreito de algumas poucas. O islão não é parte do problema do combate ao extremismo violento--é uma parte importante da promoção da paz.
Também sabemos que o poderio militar, por si só, não será capaz de resolver os problemas no Afeganistão e Paquistão. É por isso que pretendemos investir US$1,5 bilião por ano nos próximos cinco anos para formar uma parceria com os paquistaneses para a construção de escolas e hospitais, estradas e empresas, e centenas de milhões para ajudar as pessoas que foram deslocadas. E é por isso que estamos providenciando mais de US$2,8 biliões para ajudar afegãos a desenvolver sua economia e a providenciar serviços dos quais as pessoas dependem. Permitam também que eu trate da questão do Iraque. Diferentemente do Afeganistão, o Iraque foi uma guerra travada por opção e que provocou fortes divergências em meu país e em todo o mundo. Embora eu acredite que, em última análise, o povo iraquiano esteja melhor sem a tirania de Saddam Hussein, também acredito que os factos no Iraque fizeram a América recordar a necessidade de usar a diplomacia e construir consensos internacionais para resolver nossos problemas, sempre que possível. De facto, podemos recordar as palavras de Thomas Jefferson, que disse: "Espero que nossa sabedoria cresça juntamente com nosso poder, ensinando-nos que, quanto menos empregarmos nosso poder, maior ele será".
Hoje a América tem uma responsabilidade dupla: ajudar o Iraque a forjar um futuro melhor e deixar o Iraque para os iraquianos. Já deixei claro para o povo do Iraque que não queremos bases em seu país e não reivindicamos seu território ou seus recursos. A soberania do Iraque é dele mesmo. Foi por isso que ordenei a retirada de nossas brigadas de combate até o próximo mês de agosto. É por isso que vamos honrar nosso acordo com o governo iraquiano democraticamente eleito de retirar as tropas de combate das cidades iraquianas até julho e de retirar todas nossas tropas do Iraque até 2012. Vamos ajudar o Iraque a treinar suas forças de segurança e desenvolver sua economia. Mas vamos apoiar um Iraque seguro e unido como parceiro, jamais como patrono.
E, finalmente, assim como a América nunca poderá tolerar a violência de extremistas, não devemos nunca alterar nossos princípios. O 11 de Setembro foi um trauma enorme para nosso país. O medo e ódio que provocou foram compreensíveis, mas, em alguns casos, nos levaram a agir contrariamente a nossos ideais. Estamos tomando medidas concretas para mudar de rumo. Proibi inequivocamente o uso de tortura pelos Estados Unidos e ordenei o fechamento da prisão de Guantánamo até o início do próximo ano.
Assim, a América vai se defender, respeitando a soberania das nações e o estado de direito. E vamos fazê-lo em parceria com comunidades muçulmanas que também estão ameaçadas. Quanto antes os extremistas forem isolados e não se sentirem bem-vindos nas comunidades muçulmanas, mais cedo todos nós estaremos em mais segurança.
A segunda importante fonte de tensão que precisamos discutir é a situação entre israelitas, palestinianos e o mundo árabe.
Os laços fortes da América com Israel são fartamente conhecidos. Esse elo é inquebrável. É baseado em laços culturais e históricos e no reconhecimento de que a aspiração a uma pátria judaica tem suas raízes numa história trágica que não pode ser negada.
Em todo o mundo, o povo judeu foi perseguido durante séculos, e o antissemitismo na Europa culminou em um Holocausto sem precedentes. Amanhã vou visitar Buchenwald, que foi parte de uma rede de campos nos quais judeus foram escravizados, torturados, fuzilados e mortos em câmaras de gás pelo Terceiro Reich. Seis milhões de judeus foram mortos--mais que toda a população judaica de Israel, hoje. Negar esse fato é infundado, ignorante e odioso. Ameaçar Israel de destruição ou repetir estereótipos vis sobre os judeus é profundamente errado e serve apenas para evocar essa mais dolorosa das memórias na mente dos judeus, ao mesmo tempo em que impede a paz que a população desta região merece.
Por outro lado, também é inegável que o povo palestiniano--muçulmanos e cristãos--vem sofrendo em busca de uma pátria própria. Há mais de 60 anos os palestinianos suportam a dor do deslocamento. Muitos aguardam em campos de refugiados na Cisjordânia, Faixa de Gaza e terras vizinhas por uma vida de paz e segurança que eles nunca puderam viver. Eles sofrem as humilhações diárias, grandes e pequenas, que acompanham a ocupação. Portanto, que não haja dúvida: a situação do povo palestiniano é intolerável. A América não dará as costas à legítima aspiração palestina por dignidade, oportunidade e um Estado próprio.
Um impasse se mantém há décadas: dois povos com aspirações legítimas, cada um dotado de uma história dolorosa que torna um acordo difícil de encontrar. É fácil apontar culpados--é fácil para os palestinianos apontarem para o deslocamento causado pela fundação de Israel, e para os israelitas apontarem para a hostilidade e os ataques constantes ao longo de sua história, tanto dentro de suas fronteiras quanto vindos de fora. Mas, se olharmos para esse conflito apenas desde um lado ou do outro, ficaremos cegos para a verdade: que a única solução é que as aspirações dos dois lados sejam atendidas através de dois Estados, em que israelitas e palestinianos vivam, de cada lado, em paz e segurança.
Isso é do interesse de Israel, é do interesse da Palestina, é do interesse da América e é do interesse do mundo. É por isso que eu pretendo pessoalmente trabalhar por essa solução com toda a paciência que a tarefa exige. As obrigações com as quais as partes concordaram, sob o mapa do caminho, são claras. Para que a paz aconteça, é hora de elas--e todos nós-- cumprirem suas responsabilidades.
Os palestinianos precisam abandonar a violência. A resistência através de violência e matança é errada e não tem êxito. Durante séculos os negros na América sofreram o açoite do chicote, como escravos, e a humilhação da segregação. Mas não foi a violência que conquistou direitos plenos e iguais. Foi a insistência pacífica e resoluta sobre os ideais centrais da fundação da América. Essa mesma história pode ser contada por povos da África do Sul ao sul da Ásia; da Europa do leste à Indonésia. É uma história que encerra uma verdade simples: que a violência é um beco sem saída. Não é sinal de coragem ou de poder disparar foguetes contra crianças que dormem ou detonar bombas que matam idosas em um autocarros. Não é assim que se reivindica autoridade moral--é assim que ela é perdida.
Agora é o momento para os palestinianos focarem sobre o que podem construir. A Autoridade Palestina precisa desenvolver sua capacidade de governar, com instituições que atendam às necessidades de seu povo. O Hamas tem o apoio de alguns palestinianos, mas também tem responsabilidades. Para exercer um papel na realização das aspirações palestinas, e para unificar o povo palestino, o Hamas precisa pôr fim à violência, reconhecer os acordos passados e reconhecer o direito de Israel à existência.
Ao mesmo tempo, os israelitas precisam reconhecer que, assim como o direito de Israel à existência não pode ser negado, tampouco o da Palestina pode ser negado. Os Estados Unidos não aceitam a legitimidade da continuidade dos assentamentos israelitas. Essa construção viola acordos prévios e solapa os esforços para conquistar a paz. É hora de esses assentamentos pararem.
Israel também precisa cumprir suas obrigações de assegurar que os palestinianos possam viver, trabalhar e desenvolver sua sociedade. E, assim como devasta famílias palestinas, a crise humanitária contínua na Faixa de Gaza não favorece a segurança de Israel, como também não a favorece a contínua ausência de oportunidades na Cisjordânia. O progresso na vida diária do povo palestino precisa fazer parte de um caminho que leve à paz, e Israel precisa tomar medidas concretas para possibilitar esse progresso.
Finalmente, os Estados árabes devem reconhecer que a Iniciativa Árabe de Paz foi um começo importante, mas não o fim de suas responsabilidades. O conflito árabe-israelita não deve mais ser usado para desviar a atenção da população dos países árabes de seus problemas. Em lugar disso, deve ser uma causa de acção para ajudar o povo palestino a desenvolver as instituições que vão sustentar seu Estado; para reconhecer a legitimidade de Israel, e para optar pelo progresso, em lugar da atenção sobre o passado, que provoca o fracasso de seus objectivos.
A América vai alinhar nossas políticas com aqueles que buscam a paz e dizer em público o que dizemos reservadamente a israelitas, palestinianos e árabes. Não podemos impor a paz. Reservadamente, porém, muitos muçulmanos reconhecem que Israel não vai desaparecer. Do mesmo modo, muitos israelitas reconhecem a necessidade de um Estado palestiniano. É hora de agirmos com base naquilo que todos sabemos ser verdade.
Lágrimas demais já foram derramadas. Sangue demais já foi vertido. Todos nós temos a responsabilidade de trabalhar em prol do dia em que as mães de israelitas e palestinianas poderão ver seus filhos crescer sem medo; quando a Terra Santa de três grandes religiões for o lugar de paz que Deus quis que fosse; em que Jerusalém será um lar seguro e duradouro para judeus, cristãos e muçulmanos, e um lugar para todos os filhos de Abraão se encontrarem em paz, como na história de Isra, em que Moisés, Jesus e Mohammed (que a paz esteja com eles) se uniram em oração.
A terceira fonte de tensão é nosso interesse comum nos direitos e responsabilidades das nações com relação às armas nucleares.
Essa questão tem sido fonte de tensão entre os Estados Unidos e a República Islâmica do Irão. Há muitos anos o Irão vem se definindo em parte por sua oposição a meu país, e há de facto uma história turbulenta entre nós. No meio da Guerra Fria, os Estados Unidos desempenharam um papel no derrube de um governo iraniano democraticamente eleito. Desde a Revolução Islâmica, o Irão tem desempenhado um papel em actos de sequestros de reféns e violência contra tropas e civis dos EUA. Essa história é fartamente conhecida. Em lugar de permanecermos presos no passado, deixei claro aos líderes e à população do Irão que meu país está disposto a andar para frente. A questão, agora, não é contra quem o Irão está, mas sim que futuro quer construir.
Será difícil superar décadas de desconfiança, mas vamos proceder com coragem, retidão e determinação. Haverá muitas questões a discutir entre nossos dois países, e estamos dispostos a avançar sem pré-condições, sobre uma base de respeito mútuo. Mas está claro para todos os envolvidos que, quando se trata de armas nucleares, chegamos a um ponto decisivo. Não se trata simplesmente dos interesses da América. Trata-se de impedir uma corrida por armas nucleares no Oriente Médio que pode conduzir esta região e o mundo por um caminho enormemente perigoso.
Compreendo aqueles que protestam que alguns países possuem armas que outros não têm. Nenhum país isolado deveria escolher quais países possuem armas nucleares. Por isso reafirmei fortemente o compromisso da América em buscar um mundo no qual nenhum país tenha armas nucleares. E qualquer país--incluindo o Irão--deve ter o direito à energia nuclear pacífica, se cumprir com suas responsabilidades sob o Tratado de Não Proliferação Nuclear. Esse compromisso está ao cerne do Tratado e deve ser respeitado por todos os que o obedecem plenamente. E tenho a esperança de que todos os países na região possam compartilhar essa meta.
A quarta questão da qual vou tratar é a democracia.
Sei que tem havido muita controvérsia em torno da promoção da democracia nos últimos anos, e boa parte dessa controvérsia está ligada à guerra no Iraque. Então permitam que eu seja claro: nenhum sistema de governo pode ou deve ser imposto a um país por qualquer outro país.
Isso, entretanto, não diminui meu comprometimento com os governos que refletem a vontade de suas populações. Cada país dá vida a esse princípio à sua própria maneira, fundamentada nas tradições de seu próprio povo. A América não presume saber o que é melhor para todos, assim como não nos arrogaríamos o direito de escolher o resultado de uma eleição pacífica. Mas acredito inabalavelmente que todas as pessoas anseiam por certas coisas: a possibilidade de declarar o que você pensa e ter voz na maneira como é governado; a confiança no estado de direito e na justiça igual para todos; em um governo que é transparente e não rouba da população; na liberdade de viver como você escolhe viver. Essas não são apenas idéias americanas, são direitos humanos, e é por isso que nós os apoiaremos em todo lugar.
Não existe uma linha recta que conduza à realização dessa promessa. Mas uma coisa é clara: que os governos que protegem esses direitos são, em última instância, mais estáveis, bem sucedidos e seguros. Reprimir idéias nunca consegue fazer com que desapareçam. A América respeita o direito de todas as vozes pacíficas e respeitadoras das leis serem ouvidas em todo o mundo, mesmo que discordemos delas. E vamos saudar todos os governos eleitos e pacíficos, desde que governem com respeito por todas suas populações.
Este último ponto é importante, porque há alguns que advogam a democracia apenas quando não estão no poder; uma vez chegados ao poder, são implacáveis na repressão dos direitos dos outros. Não importa onde deite raízes, o governo do povo e pelo povo fixa um padrão único para todos os que detêm o poder: vocês precisam manter seu poder através do consentimento, não da coerção; precisam respeitar os direitos das minorias e participar com um espírito de tolerância e conciliação; precisam colocar os interesses de sua população e a operação legítima do processo político acima dos interesses de seu partido. Sem esses ingredientes, as eleições, por si sós, não fazem uma democracia verdadeira.
A quinta questão da qual precisamos tratar juntos é a liberdade religiosa.
O islão possui uma nobre tradição de tolerância. Nós a vemos na história da Andaluzia e de Córdoba durante a Inquisição. Eu a vi em primeira mão como criança, na Indonésia, onde cristãos devotos praticavam sua religião livremente num país de avassaladora maioria muçulmana. É esse o espírito de que precisamos hoje. As pessoas em todos os países devem ser livres para escolher e viver sua fé baseadas na persuasão de suas mentes, corações e almas. Essa tolerância é essencial para que a religião floresça, mas vem sendo contestada de muitas maneiras diferentes.
Existe entre alguns muçulmanos uma tendência perturbadora a medir sua própria fé pela rejeição da fé de outro. A riqueza da diversidade religiosa precisa ser defendida, quer seja para os maronitas no Líbano ou para os coptas no Egito. E é preciso que sejam fechadas também as divisões entre muçulmanos, já que as divisões entre sunitas e xiitas já levaram a violência trágica, particularmente no Iraque.
A liberdade de religião é fundamental para a capacidade de convivência dos povos. Precisamos sempre examinar as maneiras pelas quais a protegemos. Por exemplo, nos Estados Unidos as normas sobre as doações de caridade vêm dificultando o cumprimento pelos muçulmanos de sua obrigação religiosa. É por isso que estou engajado em trabalhar com muçulmanos americanos para assegurar que possam cumprir a zakat.
Do mesmo modo, é importante que os países ocidentais evitem impedir cidadãos muçulmanos de praticar a religião da maneira que lhes convém, por exemplo ditando que roupas uma mulher muçulmana deve trajar. Não podemos disfarçar a hostilidade em relação a qualquer religião por trás de um pretenso liberalismo.
De facto, a fé deve nos unir. É por isso que estamos forjando na América projectos de serviço que reúnam cristãos, muçulmanos e judeus. É por isso que saudamos esforços como o diálogo Interfés do rei saudita Abdullah e a liderança da Turquia na Aliança de Civilizações. Em todo o mundo, poderemos converter o diálogo em serviços Interfés, para que pontes entre povos possam levar a acções, quer sejam o combate à malária na África ou a prestação de assistência após um desastre natural.
A sexta questão da qual quero tratar é a dos direitos das mulheres.
Sei que há um debate sobre essa questão. Rejeito a visão de alguns no Ocidente de que uma mulher que opta por cobrir seus cabelos de alguma maneira goza de menos igualdade, mas acredito que uma mulher à qual é negada a educação tem sua igualdade negada. E não é coincidência que os países em que as mulheres são altamente instruídas têm muito mais tendência a serem prósperos.
Permitem que eu fale com clareza: as questões relativas à igualdade das mulheres não são, de maneira alguma, uma questão apenas do islão. Na Turquia, no Paquistão, em Bangladesh e na Indonésia já vimos países de maioria muçulmana elegerem uma mulher para liderá-los. Enquanto isso, a luta pela igualdade das mulheres continua em muitos aspectos da vida americana e em outros países pelo mundo fora.
Nossas filhas podem contribuir para a sociedade tanto quanto nossos filhos, e nossa prosperidade comum será favorecida por permitir a toda a humanidade, homens e mulheres, alcançar seu potencial pleno. Não acredito que as mulheres devam fazer as mesmas escolhas que os homens para serem iguais, e respeito as mulheres que optam por viver suas vidas cumprindo papéis tradicionais. Mas isso deve ser escolha delas. É por isso que os Estados Unidos formarão parcerias com qualquer país de maioria muçulmana para defender o aumento da alfabetização de meninas e para ajudar as mulheres jovens a buscar empregos através do microfinanciamento que ajuda pessoas a realizarem seus sonhos.
Finalmente, quero falar do desenvolvimento econômico e das oportunidades.
Sei que, para muitos, o rosto da globalização é contraditório. A Internet e a televisão podem trazer conhecimentos e informação, mas também sexualidade ofensiva e violência insensata. O comércio pode trazer novas riquezas e oportunidades, mas também perturbações enormes e mudanças em comunidades. Em todos os países, incluindo o meu, essas mudanças podem suscitar medo. Medo que, devido à modernidade, possamos perder o controle sobre nossas escolhas econômicas, nossa política e, o que é mais importante, nossas identidades--as coisas que mais prezamos em nossas comunidades, nossas famílias, nossas tradições e nossa fé.
Mas sei também que o progresso humano não pode ser negado. Não é preciso haver contradição entre desenvolvimento e tradição. Países como Japão e Coreia do Sul fizeram suas economias crescer ao mesmo tempo em que conservaram suas culturas distintas. O mesmo se aplica ao progresso espantoso verificado em países de maioria muçulmana, de Kuala Lumpur a Dubai. Na antiguidade e nos nossos tempos, as comunidades muçulmanas estiveram na vanguarda das inovações e da educação.
Isso é importante, porque nenhuma estratégia de desenvolvimento pode ser baseada unicamente no que brota da terra, nem pode ser sustentada quando jovens estiverem sem emprego. Muitos Estados do Golfo vêm desfrutando grande riqueza em consequência do petróleo, e alguns estão começando a focar o desenvolvimento mais amplo. Mas todos nós precisamos reconhecer que a educação e a inovação serão a moeda forte do século 21, e numa parte grande demais das comunidades muçulmanas ainda há escassez de investimento nessas áreas. Estou enfatizando tais investimentos em meu país. E, enquanto a América no passado focou o petróleo e o gás nesta parte do mundo, hoje procuramos um engajamento mais amplo.
Em relação à educação, vamos ampliar os programas de intercâmbio e aumentar as bolsas de estudos, como aquela que trouxe meu pai para a América, ao mesmo tempo encorajando mais americanos a estudar em comunidades muçulmanas. E vamos procurar estágios na América para estudantes muçulmanos promissores; vamos investir em estudos online para professores e alunos em todo o mundo, e criar uma nova rede online, para que um adolescente no Kansas possa comunicar-se instantaneamente com um adolescente no Cairo.
Com relação ao desenvolvimento econômico, vamos criar um novo corpo de voluntários empresariais para formar parcerias com contrapartes em países de maioria muçulmana. Este ano serei anfitrião de uma Cúpula sobre o Empreendedorismo, para identificar como podemos aprofundar os laços entre líderes empresariais, fundações e empreendedores sociais nos Estados Unidos e em comunidades muçulmanas em todo o mundo.
Com relação à ciência e tecnologia, vamos lançar um fundo novo para apoiar o desenvolvimento tecnológico em países de maioria muçulmana e para ajudar a transferir idéias para o mercado, para que possam gerar empregos. Vamos abrir centros de excelência científica na África, no Oriente Médio e no sudeste da Ásia; vamos nomear novos enviados científicos para colaborarem em programas que desenvolvam novas fontes de energia, gerem empregos verdes, digitalizem registros, purifiquem água e cultivem plantações novas. E estou anunciando hoje um novo esforço global em conjunto com a Organização da Conferência Islâmica, para a erradicação da poliomielite. E também vamos ampliar parcerias com comunidades muçulmanas para promover a saúde infantil e materna.
Todas essas coisas precisam ser feitas em parceria. Os americanos estão dispostos a unirem seus esforços a cidadãos e governos, organizações comunitárias, líderes religiosos e empresas em comunidades muçulmanas em todo o mundo, para ajudar nossas populações a buscarem uma vida melhor.
As questões que descrevi não serão fáceis de tratar. Mas temos a responsabilidade de nos unirmos em prol do mundo que buscamos: um mundo em que extremistas não mais ameacem nossos povos, em que as tropas americanas terão voltado para casa; um mundo em que israelitas e palestinianos estejam seguros em seus próprios Estados, e em que a energia nuclear seja empregada para finalidades pacíficas; um mundo em que os governos sirvam os seus cidadãos e em que sejam respeitados os direitos de todos os filhos de Deus. Esses são interesses mútuos. Esse é o mundo que buscamos. Mas só poderemos conquistá-lo juntos.
Sei que existem muitos muçulmanos e não muçulmanos que questionam se conseguiremos forjar este novo começo. Alguns estão ansiosos por alimentar as chamas da divisão e obstruírem o caminho do progresso. Alguns sugerem que não vale a pena--que estamos fadados a discordar e que as civilizações estão fadadas a entrar em conflito. Muitos mais simplesmente são cépticos quanto às possibilidades de ocorrer uma mudança real. Há tanto medo, tanta desconfiança. Mas, se optarmos por ficarmos presos ao passado, nunca avançaremos. E quero dizer isto particularmente aos jovens de todas as religiões, em todos os países: vocês, mais que ninguém, têm a capacidade de refazer este mundo.
Todos nós compartilhamos este mundo apenas por um momento breve no tempo. A questão é se vamos passar esse tempo focando aquilo que nos divide ou se vamos nos engajar em um esforço--um esforço sustentado--para encontrar terreno comum, para focar no futuro que buscamos para nossos filhos e para respeitar a dignidade de todos os seres humanos.
É mais fácil começar guerras do que encerrá-las. É mais fácil atribuir culpas aos outros do que olhar para dentro; enxergar o que é diferente nos outros do que identificar as coisas que temos em comum. Mas devemos escolher o caminho correcto, não apenas o caminho fácil. Existe também uma regra que está ao cerne de todas as religiões: que devemos fazer aos outros o que gostaríamos que os outros fizessem connosco. Essa verdade transcende as nações e os povos. É uma crença que não é nova; que não é negra, nem branca, nem parda; que não é cristã, muçulmana ou judaica. É uma crença que vibrou no berço da civilização e que ainda bate no coração de biliões de pessoas. É a fé em outras pessoas, e foi isso o que me trouxe aqui, hoje.
Temos o poder de criar o mundo que almejamos, mas apenas se tivermos a coragem de criar um novo começo, mantendo em mente aquilo que foi escrito.
O Sagrado Alcorão nos diz: "Ó humanidade! Nós os criamos homens e mulheres; e os criamos em nações e tribos para que vocês possam conhecer uns aos outros".
O Talmud nos diz: "A totalidade da Torá tem a finalidade de promover a paz".
A Bíblia Sagrada nos diz: "Abençoados sejam os que fazem a paz, pois eles serão chamados filhos de Deus".
Os povos do mundo podem conviver em paz. Sabemos que essa é a visão de Deus. Agora esse precisa ser nosso trabalho aqui na Terra. Obrigado. E que a paz do Senhor esteja com vocês.

domingo, 7 de junho de 2009

Eleições para o Parlamento Europeu

Hoje é dia de eleições para o Parlamento Europeu.
Ao dirigir-me para o local de voto comecei a sentir um borbulhar de indignação e revolta pelo facto de estar a contribuir para a eleição de deputados que vão auferir um ordenado 8 vezes superior ao meu. Revoltante não é, estar a votar em alguém que supostamente me irá representar os meus ideais politicos em Bruxelas e que ao fim ao cabo, me irá beneficiar com uma mão cheia de nada enquanto que estes senhores que vivem à custa da politica irão angariar para os seus bolsos qualquer coisa como 364.000 € ao fim dos 4 anos do mandato, enquanto eu nos mesmos 4 anos ganho aproximadamente 48.000 €.
Depois é ve-los com grandes carros topo de gama, bem vestidos por marcas italianas ou francesas, grandes vivendas, belas férias nas zonas mais paradisiacas do mundo a pavonearem-se como se de barões tratassem, enquanto o comum do povinho contenta-se a "sobreviver" às politicas que estes senhores implementam vindas de Bruxelas e a passar férias na Costa da Caparica porque o dinheiro não dá para mais.
Chama-se a isto desigualdade, palavra esta que tanto defendem e tentam segundo eles, eliminar ou pelo menos diminuir, o grande fosso entre as classes sociais para que exista uma sociedade mais justa.
Não consigo aceitar este "desaforo" financeiro de maneira alguma.
Por muito importante que seja o trabalho destes senhores, não consigo nem nunca irei admitir de modo algum que o meu trabalho seja assim tão desvalorizado em relação ao trabalho dos senhores eurodeputados.

Relembrando palavras de um saudoso e querido colega que infelizmente já não se encontra entre nós ( Joaquim Espirito Santo ) "o trabalho deles é fêmea e o meu é macho".
Durante os 15 dias de propaganda eleitoral, não há um unico candidato que não fale que vai defender o povo, mas será mesmo assim na realidade ?
Alguem vê algum usufruto directo do "trabalho" destes senhores ? Pago para ver !
E depois ainda ficam todos muito indignados, tristes, fazem debates e meditam para identificarem as razões que levam as pessoas a alhearem-se dos actos eleitorais.
Eu votei naquele "partido" que ganha sempre as eleições ...

domingo, 31 de maio de 2009

Cavaco Silva ganhou €147 mil com SLN

A passagem de Cavaco Silva pela Sociedade Lusa de Negócios (SLN), como accionista, foi lucrativa. O Presidente da República (PR) vendeu em Novembro de 2003 as 105.378 acções que tinha da SLN - empresa que até Novembro controlou o Banco Português de Negócios (BPN) -, por €2,4 cada. Tendo em conta que as tinha comprado em 2001 por €1, Cavaco obteve, com este negócio, ganhos de €147,5 mil.
Também a sua filha Patrícia era uma pequena accionista da SLN e vendeu 149.640 acções na mesma altura que o pai, pelos mesmos €2,4. Resultado: mais-valias de €209,4 mil.
Documentos a que o Expresso teve acesso mostram que, a 17 de Novembro de 2003, Cavaco Silva e a filha deram ordem de venda das suas acções, em cartas separadas endereçadas ao então presidente da administração da SLN, José Oliveira Costa. Este determinou que as 255.018 acções detidas por ambos fossem vendidas à SLN Valor, a maior accionista da SLN, na qual participam os maiores accionistas individuais desta empresa, entre os quais o próprio Oliveira Costa.
O Expresso voltou esta semana a contactar o PR. Perguntou-lhe outra vez quando se tornou accionista e porquê, qual o valor a que comprou as acções em 2001 e qual o valor a que as vendeu. Fonte oficial da Presidência da República respondeu: "O professor Cavaco Silva - que só tomou posse como Presidente da República em 9 de Março de 2006 - e a sua mulher não têm nada a acrescentar sobre a gestão das suas poupanças, relativamente ao que consta do comunicado emitido pela Presidência da República em 23 de Novembro de 2008".
Nesse comunicado podia ler-se que Cavaco Silva, no exercício da sua vida profissional, "nunca exerceu qualquer tipo de função no BPN ou em qualquer das suas empresas; nunca recebeu qualquer remuneração do BPN ou de qualquer das suas empresas; nunca comprou ou vendeu nada ao BPN ou a qualquer das suas empresas". Além disso, referiu que nem ele nem a sua mulher contraíram qualquer empréstimo junto do BPN nem devem um único euro a qualquer banco, nacional ou estrangeiro, nem a qualquer outra entidade. Mas sobre ter sido accionista da SLN - que controlava o BPN - nada disse.
O Expresso foi também consultar as declarações de rendimentos de Cavaco Silva. Nelas foi possível verificar que na mesma conta do BPN onde tinha depositadas as acções da SLN, Cavaco tinha, em 2005, €210.634. Com a venda das acções a €2,4 em Novembro de 2003, o PR obteve um encaixe de €252.907,2.
Os €2,4 não andavam, ao que o Expresso apurou, muito longe dos valores praticados noutras transacções de acções da SLN naquela altura. O BPN não estava cotado na Bolsa, pelo que a determinação do preço das acções não era feita pelas regras de mercado. Não havia, por isso, um preço de referência para as acções definido oficialmente.
A participação de Cavaco na SLN não terá sido muito diferente da de muitas pessoas que foram atraídas para o projecto de Oliveira Costa pelas perspectivas de valorização do grupo. O banqueiro utilizava os seus conhecimentos para trazer para o grupo accionistas de relevo, quer da área política quer da empresarial. Por isso não é de estranhar que também Cavaco tenha acedido a participar no projecto SLN/BPN, tendo em conta que Oliveira Costa foi secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de um dos seus governos.
Mas, apesar de tal ser natural - e de ter sido mais um entre os 400 accionistas da SLN em 2003 -, Cavaco nunca quis confirmar a relação que teve com a SLN. Esta semana manteve a mesma postura. O Expresso já tinha revelado, em Fevereiro de 2008, que Cavaco Silva fora accionista da SLN, informação que na altura foi confirmada pela própria SLN. Em Novembro questionou o PR, pedindo-lhe que explicasse essa relação.
Cavaco não quis fazer comentários. Em vez disso, fez sair, a 23 de Novembro (um dia após sair a notícia), o comunicado a que alude.


in Expresso

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Análise Americana sobre a crise

“O Governo Federal está concedendo a cada um de nós uma bolsa de U$ 600,00.
Se gastarmos esse dinheiro no supermercado Wall-Mart, esse dinheiro vai para a China.
Se gastarmos com gasolina, vai para os árabes.
Se comprarmos um computador, vai para a Índia.
Se comprarmos frutas e vegetais, irá para o México, Honduras e Guatemala.
Se comprarmos um bom carro, irá para a Alemanha.
Se comprarmos bugigangas, irá para Taiwan e nenhum centavo desse dinheiro ajudará a economia americana.
O único meio de manter esse dinheiro na América é gastá-lo com prostitutas e cerveja, considerando que são os únicos bens ainda produzidos por aqui.
Estou fazendo a minha parte
…”

sic empresário e investidor Marc Faber

quarta-feira, 13 de maio de 2009

imagi-Nação

Sempre acreditei na força, inconcreta, da imaginação.

Contudo, durante as últimas décadas, o falso progresso das economias cartesianas criou, com as ciências exactas da gestão, um preconceito face ao verdadeiro poder da criatividade. Ser criativo é, ainda hoje, visto como um exercício lúdico, dispensável do ensino curricular e apenas aplicável a profissões intangíveis, na forma ou no conteúdo.

Estamos, no entanto, perante um momento privilegiado na história para retomar a essência criativa da condição humana. Os edifícios de certezas tangíveis, assentes em números e verdades concretas, entendidos como os mais sólidos e duráveis, ruíram. Um membro da comissão Americana para o combate ao terrorismo afirmou que não foram os terroristas que destruíram as torres (nem os mercados financeiros), antes se tratou de uma falha na imaginação, de uma incapacidade de imaginar o inimaginável.

Um pouco por todo mundo foram inchando nações desimaginadas, desestruturadas pelos despensamentos desinspirados de governos com políticas desgovernadas. Nesses despaíses homens e mulheres foram deseducados para viverem felizes, na sua desimagi- -Nação. Pois eu quero um país imaginado, inspirado, onde a medida da nossa felicidade, da nossa prosperidade, do nosso desenvolvimento económico, da nossa afirmação no mundo, seja a nossa capacidade de imaginar. Espero por si, aqui no i, para o despertar de um país novo: a nossa imagi-Nação.

Ps. Ironia, foi o "terrorismo" que acordou o mundo para a idade da imaginação.

Presidente da Ivity Brand Corp

in
ionline

Precisa-se de matéria prima para construir um País

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.
O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.

Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clipes e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui,
não em outra parte...

Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o
próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar.

Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.E você, o que pensa?.... MEDITE!


in Público (Origem não confirmada)

domingo, 10 de maio de 2009

Salários de Luxo no Parlamento Europeu

Os candidatos eleitos a 7 de Junho para o Parlamento Europeu vão passar a receber mais que o Presidente da República. Em Bruxelas, os próximos eurodeputados vão encontrar um vencimento de luxo: 7665 euros. A isto somam-se os vários subsídios a que têm direito e que podem dar um salário bruto de 12 mil euros mensais.Actualmente, os eurodeputados portugueses auferem por mês um vencimento bruto de cerca de 3800 euros, valor igual ao dos deputados na Assembleia da República. No próximo mandato, com a entrada em vigor do novo Estatuto dos Deputados para o Parlamento Europeu, o vencimento duplica.Por mês, os próximos representantes de Portugal em Bruxelas vão auferir 7665 euros, montante superior ao salário do Chefe de Estado, Cavaco Silva, que recebe actualmente 7630 euros. E há que somar os subsídios.Para fazer face às despesas com o gabinete no Estado--Membro de eleição, os eurodeputados têm direito a um subsídio de despesas gerais no valor de 4202 euros por mês. Além de serem reembolsados das despesas com as deslocações, os eurodeputados irão receber ainda um subsídio anual de deslocações no valor máximo de 4148 euros.Mas há mais: por cada dia de comparência em reuniões oficiais do Parlamento Europeu, o deputado recebe 298 euros. Caso as reuniões ocorram fora da União Europeia, recebem por dia 149 euros. Feitas as contas, recebem por mês mais de 12 mil euros brutos.

DOIS MILHÕES PARA GINÁSIO

O Parlamento Europeu investiu mais de dois milhões de euros na remodelação do ginásio na sede em Bruxelas. Os eurodeputados poderão usufruir assim de um centro de fitness totalmente renovado, por uma módica quantia de cerca de 50 euros por mês.Desde 1995 que deputados, assistentes e funcionários do Parlamento Europeu podem usufruir de um ginásio, sob o pagamento de uma quota anual de cerca de 600 euros, segundo adiantou ao CM uma assessora do Parlamento, que assegurou que o investimento de mais de dois milhões de euros será pago à instituição pela entidade comercial que vai explorar o ginásio.O ginásio vai contar com uma sala de manutenção, com várias máquinas como passadeiras, bicicletas e elípticas e dois estúdios para aulas de grupo.

in Correio da Manhã 03-05-2009